quinta-feira, 8 de julho de 2010

Entrevista: Teris Henrique Filho

POESIA COM A CARA DA JUVENTUDE

O capixaba Teris Henrique Filho começou a escrever poesia no início da adolescência. Lançou o primeiro livro aos 14 anos, de forma independente. E hoje, aos 20 é um dos autores mais acessados no site Recanto das Letras contando hoje, com mais de 22 mil acessos. Sua poesia se caracteriza por um profundo romantismo expressado através de uma linguagem simples e rica em imagens. Na entrevista Teris falou sobre sua trajetória, influências, e do papel que o poeta tem na disseminação da cultura na sociedade.
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Papel Oficio: Teris, você começou a escrever poesias aos 13 anos, e aos 14 já publicava o primeiro livro, como foi esse processo?

Teris Henrique: A poesia surgiu na minha vida de uma maneira muito despretensiosa. Tudo começou através da minha professora de Português da 7ª série, ela pediu aos alunos para que escrevessem algum poema sobre um tema livre para ser apresentado em sala. A partir desse primeiro contato com a arte da escrita, a professora enxergou em mim uma certa aptidão, me incentivou a continuar escrevendo e produzindo outras coisas. Quando eu já tinha um número grande de poemas, ela, os meus pais e a diretora do colégio pensaram na elaboração de um livro, o que viria a ser o meu primeiro lançamento com apenas 14 anos de idade.

PO: Tendo sido tão rápido, teve algum ponto negativo?

TH: Realmente foi tudo muito rápido, o livro aconteceu poucos meses depois da minha descoberta da escrita. Pode ter sido precoce publicar um livro tão cedo porque querendo ou não, eu era apenas uma criança, estava começando na literatura, 13 pra 14 anos, sem qualquer experiência, técnica, noções poéticas... Mas a minha ânsia em dividir sentimentos com outras pessoas era enorme e foi isso que impulsionou a confecção do livro. As poesias podem ter uma linguagem “infantil”, “boba”, “superficial”, porém condizem com a idade que eu tinha. O que importava pra mim era me expressar de alguma forma, por isso não me arrependo daquela publicação.

PO: E se você estivesse começando hoje, aos 20 anos, o que faria diferente?

TH: Se estivesse começando hoje com certeza publicaria um livro com mais cuidado, dedicação, seria um trabalho mais bem feito, que tivesse uma responsabilidade e uma maturidade poética maior.

PO: De lá pra cá, você produziu incessantemente. Sua poesia mudou?

TH: Naturalmente, minha forma de escrever mudou, minhas percepções e meus sentimentos não são expressos da mesma forma como quando comecei... Eu me sinto mais seguro, maduro, preparado, consigo me sentir “poeta” de fato - o que na época da publicação do livro eu via como uma brincadeira mesmo .

PO: Sua poesia é famosa por ter uma presença quase onipresente do romantismo. O jovem de hoje em dia é romântico?

TH: Eu sou muito romântico, me considero até romântico em excesso, por isso toda essa influência em minhas poesias. Vejo que muitos dos jovens de hoje não dão prioridade sentimental aos seus relacionamentos, a questão física tem contado mais do que a emotiva para eles... Acho que a juventude tem evitado o romantismo, ela está mais racional.

PO: Como é seu processo criativo?

TH: O processo criativo flui de maneira natural, não tenho fórmulas ou rituais na hora de escrever, apenas sento e transmito para o papel as minhas idéias, os meus pensamentos, o que estou sentindo naquele exato momento. Minha inspiração é repentina, vem quando menos se espera, às vezes estou numa situação em que não posso parar pra escrever, mas é involuntário. Tenho diferentes fontes de inspiração, seja uma música tranqüila que eu escuto ou até mesmo a movimentação caótica da cidade. Eu escrevo melhor quando estou melancólico, não que eu precise estar triste para compor, mas em momentos de extrema sensibilidade surgem textos muito profundos e verdadeiros.

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PO: Além do livro, você utiliza a internet para divulgar seu trabalho. O que te deu mais visibilidade. Você acha que esse é um meio mais eficaz de publicação?
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TH: A internet me permite divulgar de maneira mais abrangente o meu trabalho. Por ser um veículo ágil e em constante expansão, ela torna possível que pessoas de todos os lugares e de todas as idades tenham acesso ao que escrevo quase que no mesmo instante de sua publicação. Por outro lado, os livros também têm suas particularidades, é o registro físico, é onde você tem mais liberdade de criação, de exposição...
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PO: Você mora em Cachoeiro de Itapemirim/ES. Como é a cena literária de sua cidade?
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TH: Cachoeiro de Itapemirim é uma cidade famosa por ser berço de grandes artistas: Rubem Braga, Newton Braga, Roberto Carlos... Existe muita gente produzindo por aqui, pessoas talentosas com um potencial enorme tanto para a literatura quanto para qualquer outra manifestação cultural. Eventos literários ocorrem com freqüência - saraus, recitais, bienais - uns são bastante divulgados, porém outros não. Sinto que ainda falta o incentivo e o apoio do governo para a difusão da cultura na cidade, ela não chega a toda a população como deveria.
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PO: Além de poemas, você compõe canções. Qual a diferença na hora de criar?
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TH: Compor canções é apenas a continuidade do meu trabalho com poesias. Às vezes é inevitável musicar alguma coisa que eu tenha escrito... Poema já tem ritmo próprio, o que lhe falta é melodia.
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PO: E como saber se um texto é poesia ou letra de canção?
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TH: Toda letra de canção é uma poesia. Quando escrevo algo que julgo ter uma musicalidade legal, uma mensagem boa pra ser cantada e trabalhada como música, apenas tenho de estruturá-lo para combinar letra e som.
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PO: Seu pai também é escritor, só que ficcionista. Há alguma influência ou intervenção dele no seu trabalho?
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TH: Meu pai escreve de tudo, desde poesias, crônicas até romances policiais e de ficção. Ele já tem dois livros publicados e, de certa forma, é uma referência para mim.
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PO: Sua escrita é baseada nas suas próprias experiências de vida?
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TH: As poesias revelam muito de mim, mas não são necessariamente autobiográficas. Eu costumo misturar realidade com ficção, só que as pessoas não sabem até que ponto eu estou falando de mim e até que ponto eu estou inventando.
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PO: Qual foi o poema mais difícil de escrever e por quê?
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TH: Essa é uma pergunta complicada de se responder. Não sei dizer qual foi o mais difícil de ser escrito, como também não sei dizer qual foi o mais fácil. Existem poemas que escrevi com menos de 5 minutos, outros demoraram 2 horas, outros vários dias... Tudo depende da inspiração, ela pode chegar avassaladora a ponto de se escrever tudo de uma vez como também pode voltar num outro momento para se terminar um rascunho guardado.

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PO: Quem é seu autor favorito e por quê? Ele te influencia em algo?

TH:
Carlos Drummond de Andrade é mais do que meu autor favorito, é um grande mestre, quem eu muito admiro. Ele é a minha maior influência, escrevia poemas e defendia suas idéias como ninguém. Seu lirismo é único.

PO: Qual é o seu livro favorito?

TH:
"A Rosa do Povo", que foi escrito por Drummond de Andrade entre os anos de 1943 e 1945, quando o mundo vivia os horrores da Segunda Guerra Mundial. É o mais longo de seus livros de poemas.

PO: Qual livro está lendo no momento?

TH:
“O Terceiro Travesseiro”, romance de Nelson Luiz de Carvalho. É uma obra literária de ficção baseada em relatos reais de um garoto que sofreu o preconceito e a dor de um amor incompreendido pela sociedade que o rodeava.

PO: Como você define o ofício de poeta? E qual o papel dele na nossa sociedade?

TH:
O poeta é quem traduz sentimentos, é o ser pensante, quem expressa suas emoções do fundo da alma, quem busca uma representação para tudo que sente. Dentre outras funções, o poeta é quem retira a sociedade de sua realidade e a transporta para um mundo além de sua imaginação.

PO: E para terminar, fale da importância da poesia na sua vida.


TH: A poesia é realmente essencial em minha vida, é quem me inquieta, me acalma, me liberta, me conforta. Sem a poesia eu não me conheceria, não saberia o significado da paz, do amor, do ódio, da tristeza, da esperança. É na poesia quando eu me lanço, quando eu me sinto vivo, quando eu posso transparecer minhas ilusões, minhas fantasias, meus medos, minhas alegrias. A poesia é quem me faz seguir em frente, em busca de ser alguém melhor, em busca de força para realizar meus sonhos por mais simples que eles sejam.

RESSONÂNCIAS

Para avivar a consciência
Tenho a dor da tua lembrança
Tão intransigente no adágio da esperança.

Em meus olhos controversos
Não disfarço a inconstância
Tudo me confunde e me provoca insegurança.

Vou errando os meus caminhos
Na tensão da contradança
O meu choro pertinente só atrai desconfiança.

E no afã deste obscuro
Sofro ânsias e alternâncias
Tua voz me alucina em milhões de ressonâncias.

TERIS HENRIQUE FILHO


Para conhecer a obra de Teris Herique Filho, acessem:
http://recantodasletras.uol.com.br/autores/teris




Texto: Hudson Pereira
Fotos: Priscilla Sampaio

Poesia no Sesi RJ: Vinicius de Moraes

Neste mês de junho, em que se completa 30 anos da morte no grande poetinha Vinicius de Moraes, nada mais adequado que celebrar a sua vida. E é isto que o projeto Poesia no Sesi faz durante todo o mês. Ontem, foi a abertura das homenagens, com a presença da neta do poeta, a cantora Mariana de Moraes, cantando os sambas do avô.
A programação continua por todo mês de julho, para conferir basta ver o flyer abaixo.