quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Sir Ferreira Gullar

Não é todo dia que podemos estar na presença de um mito. Sim, esta é a sensação que eu e todos os presentes tivemos no dia 29 de setembro, ao estarmos na presença de Ferreira Gullar que encerrou as homenagens aos seus 80 anos de idade no Poesia no Sesi. Gullar é considerado o maior poeta brasileiro ainda vivo, e em plena atividade.
Durante Setembro, mês de seu aniversário, Gullar participou de inúmeros eventos em sua homenagem, lançou livro de poemas inéditos, teve as vitrines das lojas Livraria da Travessa decoradas com seus livros, e neste ano, ganhou o Prêmio Camões.

Ferreira falou para a platéia durante cerca de uma hora sobre sua vida, trajetória, as vertentes de sua obra e, claro, a poesia das coisas. – “Fazer 80 anos faz diferença? Nenhuma!” – diz ele – “a inquietação continua a mesma”, contudo admite que o passar dos anos o deixou mais reflexivo, e isso fica claro em “Em alguma parte alguma” (José Olympio Ed. 143 págs) onde Gullar reflete desde sobre seus ossos às flores do condomínio. Entre os poemas, um dos que chamam mais atenção é “O duplo” onde Gullar admite haver um outro Gullar, o poeta grandioso, que se difere do Gullar homem, comum.
.
O OUTRO

Foi se formando
a meu lado
um outro
que é mais Gullar do que eu

que se apossou do que vi
do que fiz
do que era meu

e pelo país flutua
livre da morte
e do morto

pelas ruas da cidade
vejo-o passar
com meu rosto

mas sem o peso
do corpo
que sou eu
culpado e pouco.

Gullar e eu

Fotos & Texto: Hudson Pereira