domingo, 3 de julho de 2011

Escrever: a maldição de todo escritor.

Bem, obviamente, para uma pessoa ser considerada escritora, basta que ela faça uma única coisa: escrever. Sem julgamento de talento ou qualificação, todo aquele que tem tais pretensões precisa exercitar ao máximo a sua escrita até atingir o que considerar qualitativo. Mas e quando escrever se torna uma maldição, como faz?

Certa vez, uma colega com quem eu fiz um curso sobre poesia contemporânea disse o seguinte:

- Às vezes é uma coisa horrível, insuportável. Vem enquanto estou na fila do banco, do supermercado, ou pronta pra dormir!

Ela se referia ao fato de um poema surgir pronto nas horas mais improváveis e ela precisar anotar desesperadamente antes que o perdesse. É bem por aí. A mente é uma máquina que não descansa.

Eu, que passo uma boa parte do meu tempo escrevendo, vou falar um pouco da minha experiência. Comecei a escrever poesia há 6 anos, e por muito tempo me dediquei só a ela. Em 2007 criei meu primeiro blog, somente de poemas e prosas poéticas e este já conta 300 postagens. Terminei recentemente o meu primeiro livro que comecei a escrever em 2008 e que, dificilmente achei que terminaria. Em 2009, estudei Literatura Infanto-juvenil e criei um blog de poesias infantis. Para relaxar um pouco dos versos, criei este blog em março de 2010 para falar dos meus interesses em literatura e sobre os eventos que participo. No fim de 2010 reuni algumas cartas de amor fictícias que tinha escrito como parte de um projeto e criei um blog só para estes textos. E para relaxar da poesia, das cartas, das resenhas e dos blogs, criei um blog sobre moda e comportamento em 2011. Então, de repente me vi escrevendo para 5 blogs. Cinco, Five, V blogs diferentes.

E não parou por aí. Estou escrevendo paralelamente o roteiro de um curta-metragem e uma peça de teatro, além das minhas atividades como professor de inglês e das obrigações da vida. Cada vez que tento esvaziar a cabeça de idéias, novas surgem. A poesia é a experiência metafísica, os blogs são mecanismo de expressar opinião e a dramaturgia, a fundição de experiências de vida a dos meandros da imaginação, e me pergunta se eu estou cansado? Não estou não.

Especificamente quando se trata do fazer poético, a situação é mais grave. Um texto de blog pode ser trabalhado várias vezes, ser pesquisado, a idéia vem e você pode trabalhá-la depois. Mas o poema não, o poema te invade sem pedir licença e se você não capturá-lo, ele nunca mais volta. Poetas são reféns da sua inspiração.

Escrever é uma maldição. Ela nos aprisiona a algo do qual não queremos nos libertar, tanto é que estou aqui, na frente deste computador às 00:27 de um sábado escrevendo esta crônica.

Hudson Pereira





segunda-feira, 20 de junho de 2011

Dica de Filme: “Meia noite em Paris” do Woody Allen.

Sinopse:


Gil (Owen Wilson) sempre idolatrou os grandes escritores americanos e quis ser como eles. A vida lhe levou a trabalhar como roteirista em Hollywood, o que se por um lado fez com que fosse muito bem remunerado, por outro lhe rendeu uma boa dose de frustração. Agora ele está prestes a ir para Paris ao lado de sua noiva, Inez (Rachel McAdams), e dos pais dela, John (Kurt Fuller) e Helen (Mimi Kennedy). John irá à cidade para fechar um grande negócio e não se preocupa nem um pouco em esconder sua desaprovação pelo futuro genro. Estar em Paris faz com que Gil volte a se questionar sobre os rumos de sua vida, desencadeando o velho sonho de se tornar um escritor reconhecido. (fonte:Adoro Cinema)

Todas as críticas e sinopses divulgadas fazem a gente crer que o novo filme do (genial) diretor americano Woody Allen trata-se de uma comédia romântica, simples assim.

A comédia (sempre inteligente) está lá. O romantismo idem. Mas acima de tudo “Meia Noite em Paris” é um filme obrigatório para amantes de artes e literatura, principalmente os que têm pretensões artísticas. Ao explorar a idéia de que “bons tempos não voltam mais” Allen escreveu a história de um homem que acredita estar fora de seu tempo e o dá a oportunidade de viajar ao passado, à Paris dos anos 20 onde ele conhece seus ídolos: F. Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, T.S Eliott, Gertrud Stein, além de Picasso e tantos outros artistas. Então, toda noite quando o relógio anuncia 12 horas, Gil embarca na viagem buscando aprimorar-se como escritor. Só que ele percebe através da personagem Adriana, vivida por Marion Cottilard, que assim como ele, sendo dos anos 2010, acha que a vida era melhor no ínicio do séc XX, as pessoas dos anos 20 também tem a impressão que o passado era mais interessante.

Então, eis a mensagem que capturei do filme: é preciso viver a arte e a literatura da nossa época e tentar transmitir os nossos dramas e alegrias, porque no futuro, também seremos uma espécie de Bélle Époque.

Saí do cinema com uma questão: Se você pudesse fazer uma viagem no tempo e conhecer seus ídolos, quem vocês conheceriam?

Fotos: Divulgação

Texto: Hudson Pereira

(O diretor Woody Allen e os atores)
(Pôster Internacional)
(Pôster Nacional)

TRAILER LEGENDADO:

terça-feira, 12 de abril de 2011

Dica de Livro: O Quieto Animal da Esquina de João Gilberto Noll

Quando Caio Fernando Abreu comparou a escrita de Noll com o ato de vomitar ele usou de toda sua ironia. Não sabia ele, porém, que tal alegação se tornaria a melhor definição para este “Quieto animal da esquina”, livro de João Gilberto Noll lançado pela primeira vez em 1991 e relançado em 2003 pela editora Francis. Noll nos apresenta um narrador-personagem homem comum, desempregado, morador de periferia que conta sua história através do fluxo de consciência, os fatos são expostos simultaneamente, todos de uma só vez. Por isso é como vômito, o leitor precisa mergulhar no texto, tatear a massa consistente da narrativa e assimilá-la, não buscando linearidade ou lógica. Noll põe em cena um protagonista vazio que conta sua história de forma incompleta, deixando lacunas que o leitor deve preencher. A narrativa é toda em primeira pessoa. O livro começa com o protagonista dando uma visão geral de sua vida. Ele, poeta que pouco escreve, desempregado, drogado, desacreditado, um entre tantos moradores das periferias do país. De repente é preso sem sabermos o motivo. É levado para a casa de um homem, sem sabermos quem é este homem e qual o motivo que o faz abrigar o protagonista. Durante toda história nos deparemos com fatos mal explicados, diálogos subjetivos e ações irregulares.
Este livro é um excelente expoente da literatura contemporânea: cheio de referências da pós-modernidade. A identidade indefinida do protagonista exemplifica a perda de identidade dos indivíduos. A ação focalizada no presente, nenhuma utopia ou crença no futuro são outros itens explorados na história. O erotismo é nu e cru, ligado somente ao físico. As cenas de sexo são descritas rispidamente; não há envolvimento afetivo nem busca de companhia, ao contrário, as relações sexuais apenas confirmam a solidão dos personagens e sua plena aceitação disso. Não temos noção de tempo. Não sabemos datas ou a duração dos acontecimentos. Os parágrafos têm tamanhos irregulares, uns muito grandes outros pequenos, justamente para representar esta ação descontínua. Esse vazio de informações reflete o vazio existencial do personagem; entre ele e a sociedade há um vazio tão grande que, ao invés de tentar transpô-lo, ele o aceita e se entrega, naufraga na bruma deste vazio. Noll intriga os leitores com a falta de linearidade, em vários momentos são jogados fatos que dizem respeito à outros momentos da trama e é preciso atenção para fazer as conexões. Muitos destes fatos são pistas que o autor dá para compreendermos o que aconteceu com o protagonista, e seguindo tais pistas constatamos que ele não é um narrador confiável pois não narra sua trajetória de maneira comprometida com a verdade, é apenas a sua versão. A tensão da narrativa e suas lacunas prendem o leitor de tal forma, que Noll consegue instigar todos nós a descobrir o que não foi revelado, a nos questionar se fomos realmente capazes de entender o texto entre suspeitas e dúvidas. A história de um homem nunca foi tão desafiadora. E se lembrarmos da declaração de Caio Fernando Abreu, afirmo sem titubear que sim, este livro é um vômito, o herói nada heróico expele sua própria história e o leitor não deve agir com repugnância ou receio de mergulhar no líquido disforme da narrativa. Um texto que incomoda, nauseia e desafia. . Fotos: Google Texto: Hudson Pereira

quarta-feira, 30 de março de 2011

Sylvia Plath Forever!

Sylvia Plath foi uma americana rica, bonita, loira e tinha olhos verdes. Sylvia Plath foi uma americana inteligente, culta, talentosa e tinha uma carreira promissora como escritora e professora universitária. Sylvia Plath foi uma mulher que amou demais, e isso parece ter engolido todos os adjetivos anteriormente citados. No início dos anos 50, Sylvia estudava na Universidade de Cambridge, onde era bolsista integral devido à suas incríveis qualificações. Foi lá que conheceu o poeta Ted Hughes, com quem veio a se casar em 1955, 4 meses após conhecê-lo. Contudo, a vida com Hughes não seria nada fácil e transformaria a promissora carreira de Sylvia em coadjuvante à do marido.


( Sylvia e o marido, o poeta Ted Hughes)


“Vi minha vida se desenrolar diante de mim como uma figueira de um conto que havia lido. Da ponta de cada ramo, um gordo figo roxo acenava e me seduzia com um futuro maravilhoso. Um figo significava um marido e um lar feliz com filhos, outro era uma poetisa famosa, outro uma professora, outro era Esther Greenwood, a surpreendente editora, outro era a Europa, a África e a América do Sul, outro Constantin e Sócrates e Átila, um bando de amantes com nomes esquisitos e profissões originais, outro ainda era uma campeã olímpica, e acima de todos esses figos havia muitos outros que eu não conseguia entender. Vi-me sentada sob essa figueira, morrendo de fome, só porque não conseguia decidir qual figo escolheria. Queria-os todos, e escolher um significava perder o resto. Incapaz de me decidir, os figos começavam a murchar e apodrecer, e um a um caiam no chão a meus pés.” Esse é um trecho de “The Bell Jar” (A redoma de vidro) seu romance autobiográfico, onde Sylvia contesta as escolhas durante a vida, e o impacto que a morte de seu pai, quando ela tinha 8 anos trouxe para sua poesia.



Durante o casamento com Hughes, Sylvia teve de conviver com as inúmeras traições do marido, com alunas (ambos eram professores de literatura), fãs e até amigas de Sylvia, como foi o caso de Assia Wevill, a quem Hughes engravidou, e por quem abandonou Sylvia em 1962. Nos meses seguintes, Sylvia mergulhou numa depressão profunda que culminou na manhã fria do dia 11 de fevereiro de 1963 quando Sylvia suicidou-se inalando gás de cozinha. Deixando um livro pronto sobre a escrivaninha e seus dois filhos trancados no quarto. Este livro: “Ariel” tornou-se um best-seller instantâneo quando publicado, tornando sua autora a poeta de língua inglesa mais vendida e ganhando inúmeros prêmios póstumos. Uma frase do poema “Lady Lazarus” tornou-se referência quando se fala de Sylvia Plath:



“Dying Is an art, like everything else. I do it exceptionally well.”


Traduzindo:


“Morrer É uma arte como todo o resto. Eu o faço excepcionalmente bem.”

Nos anos seguintes Ted passou a ser considerado um poeta maldito. Era comum ele ser interrompido em suas palestras e apresentações sob vaias e ofensas como “assassino!”, também era comum o sobrenome de Ted ser arrancado da lápide de Sylvia. Ted morreu de câncer em 1998, deixando livros publicados sempre sob a sombra do passado. Sylvia morreu em 1963 deixou um legado maior que a vida.

Texto:Hudson Pereira
Fotos:Google


sexta-feira, 25 de março de 2011

Martha "Certeira"

Martha Medeiros é dessas mulheres que vai direto ao ponto. Que fala o que pensa sobre qualquer assunto sem rodeios. Não há entremeios em sua literatura. Todo e qualquer assunto é tratado com uma naturalidade que só as amigas íntimas conseguem expressar.
Dos poemas que a fizeram conhecida em Porto Alegre às crônicas que a tornaram famosa no país todo, Martha expõe idéias e sentimentos com uma linguagem envolvente que às vezes de tão simples, chega a ser arcaica.

Ao tocar no tema separação; podemos comparar dois momentos. O primeiro no livro de poesias “De Cara Lavada” de 1995:

“177

hoje me desfiz dos meus bens
vendi o sofá cujo tecido desenhei
e a mesa de jantar onde fizemos planos

o quadro que fica atrás do bar
rifei junto com algumas quinquilharias
da época em que nos juntamos

a tevê e o aparelho de som
foram adquiridos pela vizinha
testemunha do quanto erramos

a cama doei para um asilo
sem olhar pra trás e lembrar
do que ali inventamos

aquele cinzeiro de cobre
foi de brinde com os cristais
e as plantas que não regamos

coube tudo num caminhão de mudança
até a dor que não soubemos curar
mas que um dia vamos”
.
E o outro, no romance “Fora de mim” de 2010 (Ed. Objetiva). Vamos mesmo curar a dor, Martha? Poucas coisas nos fazem tão apegados quanto uma dor de amor, guardamos ela no armário até que fique fora de moda, e depois, empoeirada, ficamos admirados: “Como pude vestir isso um dia?”



Neste livro recente, Martha discorre três momentos da vida de uma mulher abandonada: os primeiros dias após a separação; aquela fase quando, passado o desespero, conseguimos enxergar com racionalidade o que houve e três anos depois, onde, chega a uma fatal conclusão.

O primeiro capítulo é o mais denso, difícil de ser lido por quem passou por algo semelhante, são as horas e os dias onde só se consegue chorar e desejar a morte, sua ou do ex-companheiro, a dor pura e simples, Martha põe o dedo certeiro em nossa ferida :

“ (...) o insuportável é uma medida que nunca tem limite, eu chorei no domingo, na segunda, na terça, em várias partes do dia e da noite, um choro de quem pede clemência, de quem está sendo confrontado com a morte, eu estava abandonando uma vida que não teria mais (...)” Pág 19

“Às vezes dura dez minutos, às vezes um pouco mais. Quando dura 15, é carnaval. Fico 15 minutos trabalhando, concentrada, focada em algum assunto que não é você, e eu tenho a impressão que o processo de cura começou, mas os dias possuem bem mais que 15 minutos, e em todo resto de tempo é em você que penso, e eu me flagro incrédula, mortificada: faz de conta que não aconteceu (...)” Pág 39


O segundo capítulo é tomado por uma racionalidade estranha, nossa heroína revê todo relacionamento com distanciamento crítico, e enxerga os sinais de desgaste - invisíveis na época da paixão:

“Se eu fizesse uma pesquisa, duvido que encontrasse alguma cristã que me dissesse que sim, já teve um homem egocêntrico surgido do nada oferecendo um amor transbordante, um homem com uma conversa sem pé nem cabeça, mas deixando transparecer em cada palavra que está disposto a morrer para tê-la(...)” Págs 60 – 61

“Lembro que brincava dizendo que você teria feito uma carreira gloriosa no DOI-CODI se tivesse sido adulto no tempo da ditadura e tentado a vida como torturador, porque era assim que eu me sentia, sendo torturada com uma crueldade que, admito, no começo era muito pueril, muito discreta, e suportável, já que depois eu era recompensada por beijos mais que escandalosos e por tanto amor e dedicação que seria impossível pensar em fugir daquele cárcere” Pág 71.

Tantas voltas no entorno daquele homem importante, a ponto de tornar-se amiga da sua nova esposa, tudo em busca de uma cura, uma resposta, para no fim descobrir que tal cura não há. O que há é a força de vontade de “só por hoje não pensar nele” e de saber que todo amor traz consigo sofrimento e a razão foi barrada no baile:

“Não tenho mais forças para lutar contra o que se declara gigantesco em qualquer ser humano: a pulsão da entrega. Não será um relacionamento leve, um passeio, nenhuma relação é. Mas, com sorte, talvez eu consiga aceitar que no amor não existe moral da história, enfim.” Pág 131.


Martha acerta em cheio nos corações de todos que conheceram a paixão e seus desdobramentos fatídicos, quem ama está sempre fora de si, está sempre fora de órbita. E fim.

.
Texto:Hudson Pereira
Fotos: Google

terça-feira, 15 de março de 2011

Mônica “Múltipla” Montone

Mônica Montone é dessas artistas que não cabem numa categoria só. Não é só a escritora que fala com humor e liberdade sobre os mais variados assuntos do universo feminino (nem sempre no estilo “papo de mulherzinha”) mas também é a poeta que escreve odes aos dias dos quais se ocupa vivendo. É também a cantora rockstar que sobe ao palco vestida de noiva e termina o show feito uma pin-up. Sem esquecer a atriz que corre por uma Copacabana noturna em seu curta-metragem e já atuou no teatro com Domingos de Oliveira. Sem falar que é apresentadora do Poesia no Sesi, produtora de programas do Canal Brasil, Psicóloga de formação e Blogueira fashionista.

Tamanhas versatilidade e energia vêm do fato de Mônica ser uma mulher de seu tempo, da geração que ouve Caetano e Shakira, que assiste Lelouch e Sex and the city, que lê Sartre e Jorge de Lima, que pensa e fala, que pinta e borda.

“No Varal

Minha alma foi pendurada no varal
enquanto minha calcinha escorria
a rima de um beijo bom

Eu não estava vestida de encontro
quando o chão se fez urgente
e me encontrou
mas estava polvilhada de baunilha
como um doce recém saído do forno
a espera a primeira mordida

Na rua ao lado, um assalto
Na memória, um sino
Na boca, rijos mamilos

A madrugada engorda meus sentidos
E faz o céu desabar num tom estranho
um tom que não há

Amanhece
e estou desidratada como uma pêra
exposta em demasia ao sol

Amanhece
E o que me resta é recolher minha alma
e pendurar a calcinha no varal.”



Em 2003 publicou o livro de poemas “Mulher de Minutos” pela editora Ibis Líbris. O poema título descreve-a como uma mulher que vêm sempre na contramão do que é esperado. Seus poemas são sensuais, ora ingênuos ora libertinos, mas sempre compostos de uma feminilidade irresistível e sedutora, como a própria escritora.


“CÉU

Enfeitei meu corpo de céu
E o sol se pôs em meu umbigo
Pintas viraram estrelas
Cabelo, fios de horizonte
Saliva, chuva
Peitos, lua
Enfeitei meu corpo de céu
Para fugir dos meus perigos
E o diabo atento aos detalhes
Tomou meu corpo como seu abrigo.”


(Mulher de Minutos, pág 9)

Criou o blog “Fina Flor” para expor suas idéias sobre todo tipo de assuntos, da literatura ao cotidiano, contendo crônicas e poemas e ultrapassando 300.000 acessos. Criou um segundo blog, onde deu vida à personagem Princesa Franciny, pra falar de moda, beleza e outras futilidades necessárias, e em menos de um ano atingiu a marca de 22 mil acessos. A escritora encontrou na internet a maneira mais ágil de divulgar suas idéias, conquistando um público fiel e amigo.


Como atriz, atuou em 2009 na peça “Apocalipse segundo Domingos de Oliveira” e teve seu desempenho descrito pelo diretor como “uma bomba atômica no palco”, também teve seu poema “Mulher de Minutos” transformado em curta-metragem:



A música floresceu em 2008, no show Sol na Boca que misturava música e poesia, junto aos poeta Claufe Rodrigues e Mano Melo. Depois disso formou a banda, gravou disco com composições próprias e parcerias afetivas, e teve seu videoclipe exibido na MTV Brasil.




Com tantas atuações não fica difícil entender porque defino Mônica como Múltipla. Eis uma artista no melhor sentido da palavra: a que mergulha inteira na arte custe o que custar.



Para conhecer o trabalho da moça basta acessar seu site oficial: http://www.monicamontone.com/



Texto: Hudson Pereira
Fotos: Patrícia Landim


quinta-feira, 10 de março de 2011

Bruníssima Lombardi

Que Bruna Lombardi é e sempre foi linda, todos sabem. Mas quem tem menos de 30 anos não lembra que a bela atriz também já fez sucesso como escritora de livros, oficio que parece ter sido substituído pelo de roteirista de cinema. Bruna lançou três volumes de poesia: “No ritmo dessa festa” (1976), “Gaia” (1980) e “O Perigo do Dragão” (1984). Também lançou “Diário do Grande Sertão”, o romance “Filmes Proibidos” (1994) e o roteiro do seu filme “O signo da cidade” (2008).

Bruna sempre teve como temas de seus livros a mulher em busca da paixão. Seus poemas mostram devaneios, delírios, loucuras, sonhos e sempre defendem que o amor enlouquece e é o desígnio do ser-humano se entregar à esta loucura.

“Quanto mais fundo eu entro na desordem,
melhor me oriento”

(No ritmo dessa festa, pág 11)
(Bruna na contra-capa de Gaia (1980))

No prefácio de “No ritmo dessa festa” Chico Buarque diz que devemos separar a poesia de Bruna do rosto de Bruna, mas nem sempre isso é tarefa fácil, Bruna expõe suas fragilidades sem titubear, mostrando assim a mulher por trás da atriz-musa, como no poema “Roupa Íntima”:

“Eu que tenho andado por aí
que tenho feito algumas coisas sem sentido
que algumas vezes não refletem o que sou
eu que tenho sido já tantas mulheres
quero agora te mostrar
o que tão longamente em mim se acumulou

quero agora tirar os sapatos e o cansaço
de te contar vitórias inventadas
de inventar histórias necessárias
a insegurança toda fantasiada
as emoções fugindo de medo
a verdade posta assim fora do alcance

eu quero te mostrar
o que tão de repente em mim perdeu o sentido
mostrar as minhas marcas de nascença
te levar pra casa da minha mãe
descer as escadas, te contar
os quartos que eu tive, os cachorros que eu tive

eu quero te mostrar meu mal e o meu veneno
ranhuras escondidas, encontros furtivos
as saídas, os cinemas ordinários
como sonhei nas noites e quantas febres
quantos desejos na ponta dos meus dedos
quanta ameaça de pecado e quanto medo

eu quero te mostrar que eu nem mesmo sou bonita
olhada assim de perto às vezes
e tenho momentos de um ridículo irremediável
e uma série de pequenas vergonhas

Você há de notar logo o quanto eu preciso
que voce goste de mim
o quanto eu me desfaço e arrebento
e o quanto eu tento voltar sempre inteira

você há de perceber que eu sou de uma fragilidade
meio assim asa de passarinho
de pardal comum, e muitas vezes
não tem brilho nenhum a minha intimidade

você vai reparar minha impotência
diante de quase tudo e o medo que eu tenho
que você não goste de mim

que você saia primeiro
e me deixe sozinha
atrás desse cenário mal feito
desse teatro vagabundo
que tá ameaçando cair”

(Gaia, pág 13 )

(Com o marido, Ricelli)

Bruna foi muito amiga dos poetas Ana Cristina César e Caio Fernando Abreu, ambos a incentivaram a não desistir da poesia apesar das críticas que recebeu. Entre outros admiradores dos livros de Bruna constam Ferreira Gullar e Mário Quintana. Nos anos 2000 o poema “Alta Tensão” do último livro de Bruna, “O Perigo do Dragão” passou a ser atribuído à autoria de Clarice Lispector, sendo incluído até em redes sociais sobre a escritora:

“eu gosto dos venenos mais lentos
dos cafés mais amargos
das bebidas mais fortes
e tenho
apetites vorazes
uns rapazes
que vejo passar
eu sonho
os delírios mais soltos
os gestos mais loucos
e sinto
uns desejos vulgares
navegar por uns mares
de lá
você pode me empurrar pro precipício
não me importo com isso,
eu adoro voar.”

(O perigo do Dragão, pág 40)

Dos livros de poesia que Bruna escreveu, “O perigo do dragão” é o mais vendido até hoje, lançado pela editora Record, chegou à 7ª edição.
À pedido de Caio F. Abreu, Bruna lançou o “Diário do Grande Sertão”, onde relata em prosa e versos os bastidores da minissérie “Grande Sertão Veredas” da Rede Globo, onde foi a protagonista Diadorim:

“27 de abril

Afiada pro trajeto recolho quietamente coisas.
Uma lua. Um rio que corre dentro. Uma luz
A cada dia uma façanha complicada. A excitação de uma aventura.”

(Diário do Grande Sertão, pág 14)

E por fim, lançou o romance “Filmes Proibidos” que narra a trajetória de uma mulher de 30 e poucos anos que se entrega à uma paixão avassaladora, perdendo o controle de sua vida em nome do amor. Sob à orientação de Rubem Fonseca, o livro foi lançado pela Cia das Letras. Logo na abertura do livro, Bruna avisa dos perigos que a paixão nos oferece:

“Você percebe um ponto interno de corrupção. Um sinal vermelho.
"Não avançar" diz o aviso. É melhor cair fora e você sabe disso. É o
momento certo de dizer não. Virar as costas e dizer não.
Você detecta sua fonte de atração pelo proibido. E vai, está indo, está
desobedecendo seu bom senso e se deixando levar. Maldita curiosidade!
"E por que não fazer a escolha errada?" pergunto à mim mesma.
"Você é uma idiota. Completamente louca e idiota" me respondo.
Deve constar na minha ficha técnica: pessoa obsessiva
Você não se importa. A lâmpada acende, pisca. Soa o alarme. Você
ouve a sirene,sabe que ultrapassar significa perigo, que é um território minado.
Mas você deixa detonar.”


(Filmes Proibidos, pág 9)

Infelizmente os livros de Bruna, atualmente, só podem ser encontrados em sebos. Bruna desistira da literatura para dedicar-se à roteiros de cinema. Mas deixou uma obra dedicada à falar da mulher e suas paixões, e como ela mesma diz: “eu queria que meu drama refletisse o de todas as mulheres que se escondem quietas atrás das janelas dos apartamentos”.

Para quem quiser ler mais das obras de Bruna, podem acessar o site Brunísssima:
http://www.brunalombardi.com/



Texto: Hudson Pereira
Fotos: Google

terça-feira, 8 de março de 2011

Martha Medeiros: "Mulherão"


Para celebrar o dia de hoje, 8 de março - dia internacional da mulher, um texto da excelente cronista Martha Medeiros.




.O MULHERÃO.

Peça para um homem descrever um mulherão. Ele imediatamente vai falar no tamanho dos seios, na medida da cintura, no volume dos lábios, nas pernas, bumbum e cor dos olhos. Ou vai dizer que mulherão tem que ser loira, 1,80m, siliconada, sorriso colgate.

Mulherões, dentro desse conceito, não existem muitas: Vera Fischer, Malu Mader, Letícia Spiller, Adriane Galisteu, Lumas e Brunas.

Agora pergunte para uma mulher o que ela considera um mulherão e você vai descobrir que tem uma em cada esquina.

Mulherão é aquela que pega dois ônibus para ir para o trabalho e mais dois para voltar, e quando chega em casa encontra um tanque lotado de roupa e uma família morta de fome.

Mulherão é aquela que vai de madrugada para a fila garantir matrícula na escola e aquela aposentada que passa horas em pé na fila do banco para buscar uma pensão de 100 reais.

Mulherão é a empresária que administra dezenas de funcionários de segunda a sexta, e uma família todos os dias da semana.

Mulherão é quem volta do supermercado segurando várias sacolas depois de ter pesquisado preços e feito malabarismo com o orçamento.

Mulherão é aquela que se depila, que passa cremes, que se maquia, que faz dieta, que malha, que usa salto alto, meia-calça, ajeita o cabelo e se perfuma, mesmo sem nenhum convite para ser capa de revista.

Mulherão é quem leva os filhos na escola, busca os filhos na escola, leva os filhos na natação, busca os filhos na natação, leva os filhos para cama, conta histórias, dá um beijo e apaga a luz.

Mulherão é aquela mãe de adolescente que não dorme enquanto ele não chega, é quem de manhã bem cedo já está de pé, esquentando o leite.

Mulherão é quem leciona em troca de um salário mínimo, é quem faz serviços voluntários, é quem colhe uva, é quem opera pacientes, é quem lava a roupa para fora, é quem bota a mesa, cozinha o feijão e à tarde trabalha atrás de um balcão.

Mulherão é quem cria os filhos sozinha, quem dá expediente de 8 horas e enfrenta menopausa, TPM e menstruação. Mulherão é quem arruma os armários, coloca flores nos vasos, fecha a cortina para o sol não desbotar os móveis, mantém a geladeira cheia e os cinzeiros vazios. Mulherão é quem sabe onde cada coisa está, o que cada filho sente e qual o melhor remédio para azia.

Lumas, Brunas, Carlas, Luanas e Sheilas: mulheres nota 10 no quesito lindas de morrer, mas mulherão é quem mata um leão por dia.
.
foto: Sex and the city

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Substantivo Feminino




Quem conhece literatura sabe que as mulheres se tornaram vozes igualmente importantes dentro do meio antes dominado pelos homens. Mas nos séculos passados a escrita era dominada pelo masculino. Março é o mês das mulheres e resolvi homenagear escritoras que gosto, falando sobre seus livros e obras. Serão elas: Mônica Montone / Bruna Lombardi /Sylvia Plath / Martha Medeiros

Março será o mês das mulheres no Papel Ofício Até lá!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Evento: A palavra toda

Todas as informações a seguir foram retiradas da página oficial do evento no faceebook e podem ser acessadas através do link: http://www.facebook.com/event.php?eid=122207837850026

A PALAVRA TODA PARA O RIO
...
O Rio estava com saudade dele mesmo. Aquilo que as circunstâncias separaram, volta organicamente a se juntar. A cultura carioca não pode viver sem ser completa. Fica faltando. O Rio sempre foi uma cidade inclusiva, sede da corte imperial, capital da república até a invenção de Brasília. Uma cidade acima de tudo cosmopolita.

O Rio sempre foi bom alquimista. Do samba-jazz da bossa nova ao samba-rock de Jorge Benjor, ao beat-modernista da poesia marginal, às reuniões de Villa-Lobos, Bandeira, Pixinguinha, Almirante na casa de Tia Ciata. Do rap samba funk de Fernanda Abreu, Fausto Fawcett e Marcelo D2 à incorporação da cultura hip-hop pelos nossos mestres Heloisa Buarque e Hermano Vianna. O Rio não precisou de nenhum manifesto modernista. Já tínhamos Noel Rosa.

Uma cidade que sempre esteve próxima à palavra viva com suas rodas de samba, seu partido alto, à grandeza de Vinícius falando seus poemas na noite de Copacabana, à fala em delírio dos poetas marginais dos anos 70 ao rap de D2, BNegão e Black Alien das Batalhas do Real e do Zoeira Hip-Hop na Lapa dos anos 90. Uma cidade assim pede um festival à altura. A PALAVRA TODA vem suprir esta demanda.

A palavra em seus muitos suportes, em seu mais diverso repertório. Espanando o bolor dos puristas, incorporando outras linguagens com a música, o teatro, o mundo digital, A PALAVRA TODA mistura. Mistura a academia com a rua, as mais diversas gerações, mistura a “alta” e a “baixa” cultura, apresenta as diferenças para que nesse atrito, nessa troca, a cultura da cidade volte a fluir.

A palavra poética se tornou muito estigmatizada nesse tempo audiovisual e assim como a cidade de tempos atrás, se bifurcou entre guetos distintos e coisa de especialistas. Mas inspirado nos novos rumos do Rio, juntamos todas as pontas, convocamos suportes que sempre tiveram forte relação com a palavra como a canção e o teatro e invadimos o Espaço Sesc, em Copacabana. Nos dias 24 e 25 um sem-número de poetas de todas as tribos, dos 70, 90 e 00, do rap ao repente, do hip-hop à academia, enfim um batalhão de gente do verbo, da cena e do ritmo para dar força a um unificado e pacificado Rio de Janeiro, dar sentido a esse verão. Ou não.

O Rio tem uma riquíssima tradição no uso da palavra. Seja ela cantada, entoada, falada ou escrita. Aqui nasceram e viveram nossos grandes poetas, músicos e compositores. Do samba à bossa nova, do modernismo à poesia marginal, do neoconcretismo ao tropicalismo, de Nelson Rodrigues ao Asdrúbal Trouxe o Trombone, todos se inspiraram nessa topologia única de montanhas que deságuam no mar.

O Rio sempre foi uma cidade festiva e festeira, de muitos e brilhantes festivais. Durante o verão então, entre turistas de todo lugar, a cidade regurgita sua cultura e natureza nas praias, nas noitadas da Lapa e ensaios das escolas de samba. Rio 40º. Se o Rio comemora a possibilidade de vir a ser uma cidade una, com o direito de ir e vir e de circular por sua imensa geografia cultural, a palavra não pode ficar de fora. Agora que a cidade segue em nova direção, a palavra, padroeira do sentido, instrumento maior de expressão e comunicação, quer estar junto. Agora o Espaço Sesc abre sua gloriosa arena e foyer para um esperado festival de poesia.

A PALAVRA TODA é o festival de poesia que faltava para a cidade. O Rio é poesia, o Rio é A PALAVRA TODA.

Chacal



PROGRAMAÇÃO

DATAS E HORÁRIOS


Serviço: Espaço Sesc

Rua Domingos Ferreira, 160 – Copacabana

De 18 às 22 hs.

Entrada franca.

Tel.: (21) 2547-0156


Dia 24 de janeiro – Espaço Sesc, Copacabana


18h30 – ‘A palavra em cena’ – Paulo José e Ana Kutner
19h – ‘O rapto da palavra’ – MC Nike e Re.Fem
19h30 – ‘Agora é hora’ – Alice Sant´Anna, Augusto Guimaraens Cavalcanti, Pedro
Rocha, Mariano Marovatto, Ismar Tirelli Neto e Gregório Duvivier
20h10 – ‘A palavra contada’ – Numa Ciro e Marcus Vinícius Faustini
20h30 – ‘Noves fora tudo’ – Viviane Mosé, Carlito Azevedo, Felipe Nepomuceno, Valeska de Aguirre e Heitor Ferraz
21h – ‘Coletivos’ – Cachalote (Gabriela Marcondes, Elisa Pessoa, Ana Costa e Andrea Capella)
21h30 – ‘Às margens plácidas’ – Chico Alvim, Charles Peixoto, Ronaldo
Santos, Antonio Cicero e momento K7 com Zuca Sardana
22h – ‘A palavra cantada’ – Letuce (Letícia Novaes e Lucas Vasconcellos)

Dia 25 de janeiro – Espaço Sesc, Copacabana


18h30 – ‘A palavra em cena’ – Carla Tausz
19h – ‘O rapto da palavra’ – REP (Ritmo e Poesia): Nissin Instantâneo, Ricardinho, Babu, Bidi Dubois e Durango Kid
19h30 – ‘Agora é hora’ – Ramon Mello, Maria Rezende, Marília Garcia, Omar Salomão, Vitor Paiva e Ericson Pires
20h10 – ‘A palavra contada’ – Aderaldo Luciano
20h30 – ‘Noves fora tudo’ – Paulo Henriques Britto, Alberto Pucheu, Carmen Molinari e Masé Lemos
21h – ‘Coletivos’ – Madame Kaos (Beatriz Provasi, Marcela Gianninni, Juliana Hollanda e Arnaldo Brandão)
21h30 – ‘Às margens plácidas’ – Geraldinho Carneiro, Chacal, Pedro Lage, Salgado Maranhão e momento cassete com Armando Freitas Filho
22h – ‘A palavra cantada’ – Fausto Fawcett


Mostra paralela - A poesia toda
Fotos, vídeos e outros objetos poéticos

Alberto Saraiva // Arnaldo Antunes // Alex Hamburguer // André Vallias
Chacal // Christian Caselli // Gabriela Marcondes // GrupoUM
Gustavo Peres // João Bandeira // Lenora de Barros // Márcio-André
Marcelo Sahea // Paulo de Toledo // Renato Rezende // Zuca Sardana


FICHA TÉCNICA

Curadoria
Chacal e Heloisa Buarque de Hollanda

Organização
Ramon Mello

Coordenação Geral
Elisa Ventura

Produção
Camilla Savoia
Luiz Cesar Pintoni
Nanda Miranda

Direção de Arte
Retina 78

Realização
Sesc Rio

Idealização e produção
Aeroplano Editora

Apoio
Blooks Livraria
Retina 78

2011

É hora de voltar. 2011 começou pra valer, cheio de novas idéias e coisas boas pra mostrar!

Saúde!

Hudson Pereira