Talvez uma das maiores emoções da minha vida: ter conhecido
Nélida Piñon. A imortal, a primeira mulher presidente da Academia Brasileira de
Letras, a conhecida mundialmente. A Nélida.
O encontro foi na Bienal do Livro, no espaço mulher em foco,
onde Nélida falava sobre sua obra, e sua trajetória tão rica e interessante. Como
o tempo era curto, só pude lhe fazer uma pergunta. A pergunta que move a existência
desse blog. O que é o ofício de escritor, e qual o conselho que você daria para
um jovem escritor como eu?
“Prepare-se para o ofício. Este não é um ofício que cai do céu,
de presente. Eu acho que é uma sorte, é um dom maravilhoso mas que exige
trabalho, devoção, leitura, cultura, tudo isso é fundamental, muitas vezes você
tem dentro de você um material precioso, aí você joga no primeiro livro e
pronto, o poço fica vazio. É preciso reabastecer constantemente este poço com observação,
com capacidade de quebrar tabus, com a capacidade de dominar a língua, dominar
esse instrumento tão poderoso que é a língua portuguesa sem medo, sem temor. Não
ter medo, acho muito importante não ter medo. Não esperar glória ou
reconhecimento, nem pensar que a literatura é constituída de anjos, porque há
gente com muito talento, que nem sempre são generosos. A criação é maravilhosa
com suas particularidades e singularidades, mas a carreira pode ser terrível
porque você nem sempre encontrará pessoas generosas que irão te ajudar ou fazer
com que você siga adiante. O ofício de escritor é uma mistura de sensibilidade
aguda e coragem. E não desista, não importa o que digam de você e da sua obra.”
Podem até não haver muitas pessoas generosas no caminho, Nélida,
ainda bem que você é.
Hudson Pereira
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